O conto de Asimov é realmente fantástico.
Quanto mais discutimos, mais coisas descobrimos: mais paralelos com a humanidade, com a história, com a religião. Cada vez mais, temos base para um jogo interessante.
Mas e daí? No final, a discussão foi sobre um homem pelado.
O quê?
Isso mesmo. Um homem pelado e seu pênis. Explico.
O enredo diz que homem criou um robô com lógica avançada que o fez chegar a questões que assolam a humanidade desde as origens: quem sou eu? De onde vim? Minha existência é algo aleatório?
Na incapacidade de explicar sua própria complexidade (e perante a assustadora possibilidade de sua presença ser irrelevante para o universo), Cutie criou uma figura sagrada que explica tudo, assim como o Homem fez em suas origens. O robô refuta qualquer argumento científico sobre sua existência (assim como as religiões fazem com a teoria evolucionista e diversos outros argumentos da ciência moderna) e, incapaz de conceber a complexidade da natureza e da existência, gera essa explicação que não pode ser provada, nem refutada, e que serve para explicar simplesmente tudo – o que leva à uma fé cega, que beira a agressividade o tempo todo.
Os questionamentos e subjetividades do robô, conseqüências da alta capacidade que o Homem lhe atribuiu, podem ser comparados ao mito grego de Prometeu, que, desobedecendo aos soberanos deuses do Olimpo, deu ao Homem o fogo sagrado, a sabedoria. Foi a partir desse momento que o homem deixou de ser um animal, passou a desenvolver pensamentos e “rebelou-se” contra seus criadores. Dizia Decartes, “Penso; logo, existo” (obrigado, Hamide!).
Esse mito tem paralelos com o de Adão e Eva, do Cristianismo. Mesmo que eles nunca tenham questionado a existência de Deus, o desobedeceram, comeram da Árvore da Sabedoria e, assim, passaram a existir como humanos. Encontramos também ligações com a história de Joanna D’Arc, que ignorava a instituição Igreja (que era soberana na época) e seguia apenas instruções diretas de “Deus” – e existe muita polêmica em torno dessa figura histórica. Alguns acreditam que ela era mesmo uma mensageira de Deus; outros, que ela era esquizofrênica e ouvia vozes apenas em sua cabeça. No caso de Cutie, nos parece bastante óbvio que a figura do “Senhor” só existe para ele – mas, se existe para ele, ela existe. Não?
Enfim, muitas questões interessantes. Isso daí é uma colher de chá do que estamos discutindo. Mas tudo foi esquecido por causa de uma questão PRIMORDIAL: o homem das cavernas vai ficar pelado em nosso jogo? O pênis dele vai balançar enquanto ele corre?
São as perguntas que não querem calar.
Vale considerar que todo mundo que viu Watchmen saiu comentando sobre aquele pênis azul, e não sobre o filme... Por outro lado, o homem das cavernas nu é mais realista, e está em um contexto sem erotização. Mas... quando a Rockstar lançou aquele pacote (sem trocadilhos) para GTA IV que incluía um homem pelado, todo mundo ficou falando sobre isso e esqueceu de comentar todas as outras milhões de coisas que a expansão tinha a oferecer. Mas... um homem nu faz sentido considerando a faixa etária do nosso público alvo.
Por enquanto, nosso protagonista das cavernas vai estar peladão. Vamos ver o que vai rolar (sem trocadilhos de novo!)
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
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